Não é a primeira vez que escrevemos sobre o futuro da Administração e os desafios que ela irá enfrentar nos próximos anos tendo em vista as profundas, rápidas e inesperadas mudanças e transformações que estamos vivendo. Há tempos, mostrávamos que a Era da Informação já trazia uma série de desafios à Administração, tais como:
1. Conhecimento: a nova economia é uma economia do conhecimento. Apesar da inteligência artificial e da TI, o conhecimento é criado por pessoas. O conteúdo de conhecimento integrado em produtos e serviços está crescendo na forma de edifícios e casas inteligentes, carros inteligentes, rodovias inteligentes, cartões inteligentes (smartcards), smartphones, etc.
2. Digitalização: a nova economia é uma economia digital, e a nova mídia é a internet. A informação está em formato digital em bits. A TI permite trabalhar um incrível volume de informações comprimidas e transmitidas na velocidade da luz. A infoestrutura está substituindo cada vez mais a velha estrutura tradicional, trazendo big data e analytics na rasteira.
3. Virtualização: na transformação da informação de analógica para digital, as coisas físicas podem tornar-se virtuais, como a empresa virtual, escritório virtual, emprego virtual, realidade virtual, inteligência artificial, etc.
4. Molecularização: a nova economia é uma economia molecular. A antiga corporação foi desagregada e substituída por moléculas dinâmicas e equipes de indivíduos e entidades que formam a base da atividade econômica.
5. Integração/redes interligadas: a nova economia está interligada em rede, integrando grupos que são conectados a outros para criar valor e riqueza. As novas estruturas organizacionais em rede são horizontais e conectadas pela internet. São redes de redes, rompendo as fronteiras entre empresas, fornecedores, clientes e concorrentes.
6. Desintermediação: as funções de intermediário entre produtor e consumidor estão sendo gradativamente eliminadas devido às redes digitais e ao comércio eletrônico. As informações são online onde produtores e compradores se conectam entre si dispensando intermediários.
7. Convergência: na nova economia, o setor econômico predominante deixou de ser a indústria automobilística para ser a mídia, para a qual convergem as indústrias de computação, comunicação e conteúdo baseado em computador e em telecomunicações digitais.
8. Inovação: a nova economia é uma economia baseada em inovações. Tornar os produtos rapidamente obsoletos é o lema das organizações. Os ciclos de vida dos produtos estão se tornando cada vez mais curtos.
9. Produconsumo: a distinção entre consumidor e produtor está ficando pouco nítida. Na internet, o consumidor torna-se produtor de mensagens, contribui para discussões, faz test-drives em carros ou escaneia o produto no outro lado do mundo e influencia decisivamente o processo decisório da empresa. A PwC salienta que os consumidores são mais disruptivos do que os concorrentes.
10. Imediatismo: na economia baseada em bits, o imediatismo é básico para o sucesso empresarial e a nova empresa é uma empresa ágil e flexível e em tempo real. O intercâmbio eletrônico de dados (EDI = electronic data interchange) interliga sistemas de computadores entre fornecedores e clientes para proporcionar concomitância de ações e decisões.
11. Globalização: a nova economia é uma economia global e planetária. Os negócios e o conhecimento não conhecem fronteiras
Tudo isso vem passando por uma crescente aceleração, com mudanças e transformações súbitas trazendo disrupturas rápidas e profundas e provocando uma série de incertezas a respeito de como será a Administração em um futuro próximo ou remoto. Esse aspecto exponencial aumenta essas incertezas.
A nova lógica das organizações
Contudo já estamos fazendo coisas incríveis em nossas organizações. A velocidade da mudança e os desafios do mundo globalizado estão conduzindo a um sentido de emergência quanto à adaptabilidade das organizações, como condição fundamental para que sobrevivam no novo ambiente extremamente mutável de negócios. As organizações no mundo moderno estão se caracterizando por:
1. Cadeias de comando mais curtas: a velha cadeia escalar de comando está na berlinda. A tendência é enxugar níveis hierárquicos na busca de organizações ágeis, enxutas e flexíveis. Compressão ou eliminação da hierarquia para proporcionar estruturas horizontais ou achatadas, que representam uma enorme vantagem competitiva em termos de fluidez, agilidade e flexibilidade.
2. Menos unidade de comando: o tradicional princípio de que toda pessoa só pode reportar-se a um único superior está sendo questionado. A ascendência vertical(subordinação ao chefe) está sendo substituída pelo relacionamento horizontal (em direção ao cliente, seja ele interno ou externo). A ênfase horizontal no processo está ocupando o lugar da hierarquia vertical. A tendência é utilizar equipes funcionais cruzadas, forças-tarefas e estruturas horizontais para aproximar ainda mais o cliente interno ou externo.
3. Amplitudes de controle mais amplas: as organizações estão partindo para amplitudes administrativas mais amplas, que reduzem a supervisão direta e facilitam a delegação de responsabilidade e maior autonomia às pessoas.
4. Mais participação e empowerment: a participação é o processo de transferir responsabilidades e decisões às pessoas. Os gestores estão delegando meios para fortalecer as pessoas em todos os níveis para que elas possam tomar todas as decisões que afetam o seu trabalho. Com o empowerment, proporciona-se maior responsabilidade e autonomia às pessoas, que passam a trabalhar mais livremente com um mínimo de supervisão direta e muito coaching.
5. Staff como consultor e não como executor: o staff executava serviços especializados ou assessoria na solução de problemas para a organização. A tendência é transformar o staff de prestador de serviços em consultor interno. Quem deve executar é a linha. A função do staff é assessorar e orientar a linha para que ela faça melhor o seu trabalho e não substituí-la em certas atividades.
6. Ênfase nas equipes de trabalho: os antigos departamentos e divisões estão cedendo lugar a equipes de trabalho definitivas ou transitórias. Essa aparente “desorganização” do trabalho significa uma orientação rumo à flexibilidade, agilidade, fluidez, mudança e inovação para acompanhar as mudanças externas.
7. A organização como um sistema de unidades de negócios interdepen- dentes: As organizações estão se estruturando sobre unidades autônomas e autossuficientes de negócios, cada qual atuando como um centro de lucro específico, com metas e resultados a alcançar. Para tanto, torna-se necessário um sistema de informação capaz de integrar o todo organizacional em tempo real.
8. Infoestrutura: a nova arquitetura organizacional é interligada através da TI. A infoestrutura permite uma organização integrada sem estar concentrada em um único local. Ela dispensa a hierarquia porque a informação está disponível no formato eletrônico e é oferecida a toda a organização para tomada de decisões e ações competitivas. As pessoas podem trabalhar em qualquer tempo ou lugar. Cada equipe ou unidade de negócio funciona como cliente ou fornecedor (ou servidor) ligado em rede e trabalhando em uma estrutura molecular, ágil e flexível.
9. Abrandamento dos controles externos às pessoas: as organizações estão preocupadas com os fins (alcance de metas, objetivos ou resultados) e não com os meios (comportamento cotidiano das pessoas). Os controles externos (regras, regulamentos, horário de trabalho) são substituídos por conceitos como valores organizacionais, missão, espírito empreendedor, foco no cliente e que permitem orientar (e não fiscalizar ou bitolar) o comportamento das pessoas.
10. Foco no negócio essencial (core business) e eliminação do acessório, supérfluo ou acidental: programas de enxugamento e terceirização são realizados para eliminar as aparas e reorientar a organização para aquilo que realmente ela foi criada: seu negócio, seu cliente e demais stakeholders.
11. Consolidação da economia do conhecimento: é a presença do trabalho mental no qual predominam a criatividade e inovação na busca de novas soluções, produtos e processos para agregar valor à organização, ao cliente e aos demais stakeholders diretos ou indiretos. As pessoas deixam de ser fornecedoras de mão-de-obra para se tornarem fornecedoras de conhecimento que agrega valor ao negócio, à organização, ao cliente e aos stakeholders.