Vivemos em um mundo caracterizado por uma enorme variedade de organizações de todos os tamanhos possíveis: pequenas, médias, grandes, nacionais, internacionais ou mundiais. E de todos os tipos imagináveis: industriais, agrícolas, operando serviços como universidades e escolas, shopping-centers, supermercados, hospitais, restaurantes, transportes aéreos, rodoviários e marítimos, teatros, cinemas, editoras e livrarias, postos de gasolina, etc. Elas sempre estão aonde nós queremos ir ou chegar. O fato é que nascemos nelas, vivemos a maior parte de nossas vidas dentro delas ou através delas e até para morrer dependemos delas. As organizações – tal como as conhecemos hoje – surgiram no início da primeira revolução industrial. Vivemos em um tipo de “sociedade corporativa” e precisamos prezar pelas empresas. Elas foram crescendo e se desenvolvendo em termos de tamanho, diversidade e complexidade ao longo da segunda e da terceira revolução industrial. Esse é o universo de nossas vidas.
“As organizações fazem parte de um mundo complexo e mutável. Elas não vivem sozinhas. E nem são isoladas ou insuladas e nem são autossuficientes. Na verdade, elas são sistemas adaptativos complexos, uns mais adaptativos que outros, atuando dentro de sistemas mais complexos ainda e estão inseridas em um meio ambiente constituído por muitas outras organizações. De um modo geral, todas elas dependem umas das outras para poderem sobreviver e competir nesse complexo mundo de organizações. Elas fornecem os insumos e recursos para que outras organizações possam funcionar e operar. Há, portanto, um complexo universo de organizações, cada qual com seu propósito, missão e criação e entrega de valor. O dinâmico intercâmbio entre as organizações ultrapassa as fronteiras dos países e se projeta em escala global ao redor do mundo. E a interdependência organizacional é cada vez maior graças às alianças estratégicas entre organizações que se relacionam em redes integradas e complexas ou plataformas incríveis. Afinal, a união faz a força. E isso se aplica principalmente às organizações” 1. Mas, de outro lado existe a competição entre as organizações. Todas elas disputam fortemente o mercado e pretendem conquistar o melhor espaço possível. E todas elas buscam colaboração com outras para competir e disputar parcelas do mercado. Assim cooperam com algumas e competem com outras. Fazem acordo com umas e disputam contra outras. O mercado é o cenário desta ocorrência interminável de parcerias e disputas, de acordos e concorrências entre elas. Essa e a única certeza que temos pela frente. Tudo o mais neste mundo novo em que vivemos prima pela incerteza a respeito do futuro em função das rápidas mudanças e transformações imprevistas e exponenciais.
O fato principal é que nos dias de hoje, todas as organizações passaram a enfrentar rápidas e profundas mudanças e transformações ao seu redor que estão trazendo enormes desafios que crescem rapidamente rumo à exponenciação. Com o amadurecimento deste grande “sistema de sistemas organizacionais” a relação entre os diversos componentes, ou seja, entre organizações que competem entre si e os componentes externos a elas como governos, sociedade, e tecnologias, fica cada vez mais clara. Com isso a busca de soluções para a adaptabilidade bem-sucedida das organizações a esse novo e mutável mundo dos negócios que se afigura rapidamente passa a ser o desafio mais dramático, pungente e urgente que as organizações jamais se sujeitaram ate então. A transformação digital esta apenas começando. A pergunta que paira no ar é: estamos preparados para ela?
“A maquinaria da gestão moderna faz com que seres humanos rebeldes, teimosos e de espírito livre se adaptem a padrões e regras, mas ao fazê-lo desperdiça quantidades prodigiosas de imaginação e iniciativa humanas. Traz disciplina às operações, mas põe em perigo a adaptabilidade organizacional. Multiplica o poder de compra dos consumidores em todo o mundo, mas também escraviza milhões de pessoas em organizações quase feudais, de cima para baixo. E embora a gestão moderna tenha ajudado a tornar as empresas dramaticamente mais eficientes, há poucas provas de que as tenha tornado mais éticas.” 2.
Para alcançar a agilidade organizacional para alcançar competitividade e sustentabilidade necessárias nos conturbados dias de hoje torna se necessário repensar totalmente as características básicas e fundamentais de nossas organizações e ampliar a perspectiva do que é uma organização e em que ambiente (sistema) ela existe.
Os desafios organizacionais pela frente
De um modo geral, o mundo moderno atravessa momentos de enormes e profundas mudanças e transformações sociais, econômicas, culturais, demográficas, tecnológicas que estão afetando o mundo organizacional de maneira imprevista e contundente. A rapidez e variedade dessas mudanças resulta em uma complexa mistura e exponenciação que provoca imprevisibilidade e incerteza total pelos seus resultados caóticos. Os desafios do porvir são muitos em quantidade, complexos em sua natureza e naturalmente desconhecidos. A ampliação da capacidade de percepção do que é a organização é crucial, pois as interações com os elementos desses desafios vem ficando cada vez mais clara, mais forte e óbvia. Ao ponto que os limites organizacionais, sob a ótica da organização como um sistema até certo ponto auto-suficiente e responsivo ao seu entorno, tais limites tornam-se cada vez mais tênues. Isso demanda um grau de regulação e adaptabilidade nunca antes necessários na história da administração como ciência. Esses limites cada vez mais tênues ocorrem como resultado do desenvolvimento de tecnologias da informação como a Internet, IA, engenharia de software e seus diversos campos de pesquisa e desenvolvimento.
Está na hora de buscar a criatividade e a energia para construir e reconstruir organizações que emerjam cada vez mais ágeis e adaptáveis, capazes de alcançar níveis de excelência e de sucesso nesses tempos nebulosos que atravessamos. Trata-se de um desafio que requer uma abordagem ampla, abrangente e inteligente. E com a maior urgência possível. Lidar com o futuro organizacional requer agilidade, pois tudo muda em uma velocidade incrível e cada organização precisa acordar para se manter sempre pronta e ágil. Esse é o papel do agilista estratégico, seja ele o presidente, diretor ou o seu maior responsável: mirar a sua organização como um organismo dinâmico, integrado e adaptativo e prepará-la adequadamente para conviver com um mundo complexo, mutável e turbulento no sentido de alcançar um futuro sempre melhor. E isso requer uma caminhada igualmente complexa e integrada que procuraremos explicar a seguir.
Hoje, é nesta etapa de mudanças vertiginosas – imprevisíveis e não lineares – que trazem incerteza e disrupturas é que estamos administrando nossas organizações. Precisamos entender, analisar e adotar a complexidade no cotidiano da administração de empresas. É uma etapa que tem tudo para complicar a vida de nossas organizações face a quatro desafios principais:
- Como a organização pode sobreviver às tantas mudanças rápidas e imprevistas ao seu redor.
- Como a organização pode conseguir flexibilizar-se e mudar rapidamente para evitar uma possível disruptura.
- Como a organização pode adaptar-se rapidamente às mudanças externas em busca de oportunidades valiosas e de evitar situações perigosas.
- Como a organização pode reconstruir sua cultura corporativa para obter o máximo de sua inteligência coletiva e colaboração irrestrita.
- Como a organização pode ter o seu ponto norte claro pela frente como visão do futuro para inspirar seus líderes e seus talentos.
O fato é que todas as organizações foram ou serão agora afetadas pelas disrupções para as quais não estão preparadas e não existem fórmulas mágicas para saírem ilesas. Muitas delas tiveram de se reinventar abruptamente com sucesso. Contudo, a estratégia que podem adotar fará toda a diferença para saber se elas vão sair mais fortes ou mais frágeis dessa incrível e inesperada situação. O mundo organizacional não pode parar pois ele é extremamente importante e vital para a sociedade moderna.
Precisamos de abordagens novas – para transformar possíveis desafios em oportunidades – e sumamente rápidas que somente um agilista estratégico poderia enfrentar com sucesso. Mas ele não pode fazer tudo sozinho, mas com a ajuda de uma equipe de equipes para envolver todo o trabalho necessário, com muito planejamento e coordenação. O fato é que ele deve trabalhar mais do que todos no planejamento do trabalho para logo depois trabalhar menos do que todos na realização e execução do plano, que se torna uma verdadeira jornada de ações de continuamente empurrar e de puxar e de fazer e refazer face à continuidade das imprevistas mudanças e transformações externas que vão surgindo pela frente. A incerteza, imprevisibilidade e velocidade das mudanças trouxeram um incrível e poderoso desafio na gestão do futuro organizacional.
1 CHIAVENATO, Idalberto, Comportamento Organizacional: A Dinâmica do Sucesso das Organizações, São Paulo, Editora Atlas, 2021, p. 303-333.\
2 Hamel, Gary; Breen, Bill. The Future of Management (pp. 8-9). Harvard Business Review Press. Kindle Edition.